sábado, 18 de julho de 2020

O Sétimo Encontro

Teresa estava exausta!!! Tomou um banho longo e quente. Quando saiu do chuveiro sua pele exalava vapor e um tênue aroma adocicado. Resolve fazer então algo que não fazia a anos.... Dormir totalmente nua e sem nenhuma coberta, visto que, a noite estava levemente quente. Fez uma oração ao Pai, e uma a Mãe. Já fazia muito tempo que não elevava seus pensamentos a Mãe. Lembrou-se de sua infância, que às vezes ao deitar morria de medo, e tinha que se cobrir até a cabeça e pedir proteção a Mãe. Então sentia uma paz imensa e lhe vinha um sono tranquilo. Não sabia porque, mais a muito tempo não falava com a Mãe. Recostou a cabeça no travesseiro e dormiu longamente...
Despertou com o alarme de seu celular, era seis horas da manhã, que tristeza, era segunda-feira. Mais vestiu-se logo de alegria, mesmo estando nua, pois tinha saúde e era dona de si mesma.... Não tanto, por um pequeno detalhe, que iria resolver naquele dia mesmo. Levantou-se, tomou um banho rápido, vestiu-se toda de preto e fez uma maquiagem no mesmo estilo, deu beijo para seu reflexo no espelho e foi para o mundo
Teresa chegou como sempre, pontualmente as oito e vinte e cinco, seu horário de entrada era as nove, então ganhava sempre uns minutos extras, para tomar um café, conversar com alguém ou mesmo ir ao banheiro. Ela trabalhava já a alguns anos nessa empresa de cobranças, era uma das melhores e uma das mais cobradas, por ironia, também era uma das mais relegadas. Na verdade, a sua líder tinha uma inveja muito grande da pessoa que ela era, extremamente competente, eficaz, simpática, amiga de todos, inclusive dela. No entanto o medo de Teresa se sobressair e ser motivo de destaque na operação, fazia com que Solange sempre pegasse no seu pé e vivesse reclamando de coisa pequenas e sem sentido: “Tereza hoje preciso de você, irá ficar uma hora a mais” (na verdade seriam duas ou mais, e sempre era Tereza que se estendia, quando ela mesmo ia embora deixando tudo a seu cargo. Muitas vezes quando outras pessoas erravam, a culpa caia justamente nela, mesmo tentando explicar e se justificar, tudo inútil: “Tereza você é a mais antiga de casa, deveria ter orientado melhor ela, se houve este erro, a culpa é sua”.
Assim que entrou no escritório houve um silêncio profundo e constrangedor. Todos pararam o que estavam fazendo e por rápidos minutos fitaram sua pessoa. Até que Paulo, um rapaz que se sentava ao fundo e era o mais descolado da equipe, se levantou e deu um grito:
__Tereza, você está fantástica!!!
Paulo começou a bater palmas e a coisa meio que fugiu do controle, a operação toda se levantou e começou a aplaudir Tereza, ela deu um sorriso constrangido. Do meio da sala pode se ouvir uma voz autoritária e em tom arrogante.
__Ok, ok queridos, o circo já passou agora voltem todos a seus afazeres. E você mocinha está fora dos padrões da empresa. Que trajes são esses??? E pelo amor.... Que maquiagem horrível é essa???
__Solange não vim aqui falar do meu estilo novo e arrojado, que realmente não combina mais com este lugar. Este lugar, tirando claro, muitos de meus amigos que não merecem estar aqui, é triste e deprimente, bem a sua cara
Solange ficou lívida, tentou falar, mais apenas gaguejos lhe saiam pela boca. Ao redor várias reações: risinhos, comentários reprovativos, alguns sorrisos de concordância
__Eu vim para me despedir de vocês. Passei no RH e pedi minhas contas. Portanto o contato que terão comigo, provavelmente será pelas redes sociais
Tereza ouviu um leve choro vindo de uma das mesas, era sua melhor amiga de trabalho, se dirigiu até ela, abriu os braços e lhe deu um forte abraço
__Você não, minha casa está com as portas abertas, venha sempre que quiser!!! E faça algo por você também. Saia desta vida!!!
Como era de sua nova pessoa, deu as costas e foi embora. Agora tudo aquilo também era passado. Pegou o elevador e na recepção se despediu dos atendentes que sempre lhe foram tão simpáticos e solícitos, trocaram telefones. Tereza alcançou a frente do prédio, era um lindo dia nublado, respirou profundamente aquele ar, era um novo ar. Lembrou-se que ali nas proximidades havia uma loja de produtos de artes, ficava na Galeria Metrópole, ainda era um pouco cedo, mais o ambiente lá era bem acolhedor, se dirigiu ao endereço, subiu dois lances de escada rolante, sentou-se em um dos bancos, abriu a bolsa, ia pegar o tablete e dar sequência na leitura do livro, quando alguém lhe chamou:
__Oi Lucia
Tereza simplesmente congelou, um arrepio tomou conta de todo se corpo. A criança a seu lado dava um lindo sorriso
__Amanda???
__Ainda bem que você se lembrou de mim, já estava ficando chato não ser reconhecida
__Como você chegou aqui???
__Ah, simples, você me chamou, e aqui eu estou
__Não, eu não chamei você!!!
__Chamou sim, ontem à noite, antes de você ir se deitar
Tereza pensou, pensou, mais não atinou!!!
__Antigamente, nós erámos muito mais próximas e eu adorava ficar com você, pois você não era como as outras pessoas, que ficavam somente me pedindo coisas. Você sempre pura e sincera. Mais com o tempo você cresceu e nossa amizade meio que ficou no vácuo (um sorriso)
Tereza fez uma cara de espanto, sim claro, agora se lembrava, e como uma novela, cenas se passaram em sua mente: de quando caiu da bicicleta e teve o braço quebrado, ficou dias sem sair de casa, mais a oração que sua mãe lhe ensinará lhe deu extremo alívio e uma companhia para brincar e não ficar só. Então toda vez que sofria algum descontentamento, fosse na escola ou em casa, sua amiga Lucia vinha brincar e conversar com ela. Seus pais quando souberam de Lucia, ficaram preocupados com Tereza, foram aí que começaram as primeiras sessões com o terapeuta, e com resultados e o tempo Lucia sumiu de sua vida, como se fosse uma imaginação de sua mente. Mais como ela estava ali agora, e o tempo lhe manterá da mesma forma. Tereza pegou nas mãos de Lucia
__Como você pode existir? Não entendo
__Eu sou o fruto da sua imaginação, mais isso não quer dizer que não exista. Você como uma pessoa do Segundo Plano pode me ver facilmente, sempre que quiser. Você me chama Mãe, como a sua própria lhe ensinou, outros me chamam de Maria, mais eu prefiro Lucia (o sorriso, sempre no rosto)
Tereza chorou muito...
__Maria foi uma pessoa que existiu há muitos e muitos anos, eu não sou ela, eu fui ela. Isso já se passou. Eu tive um privilégio que me foi dado. E hoje as pessoas se enganam achando que eu tenho o poder. O poder é de todos aqueles que acendem. Você tem o poder!!!
Lucia encostou o dedo no peito de Tereza, lhe indicando o coração
__É errado pedir aos Santos!!! Pois isso só retarda a fé!!! Recebo milhões de pedidos, tenho que mentaliza-los e envia-los ao Pai. Se as pessoas tivessem fé nele suas orações iriam direto a ele, tal qual a luz chega a Terra
__Entendo, ele é o Pai e você a Mãe!!!
__Não Tereza, o Pai e a Mãe são a mesma energia de gêneros diferentes, não é um contexto sexual, mais um contexto harmônico. Imagine uma linha, se você seguir para um lado tem o Pai, se seguir na direção oposta, tem a Mãe. Vai depender muito do que você procurar, e o momento em que você estiver inserida. Mais o mais importante é que você tem Eles dentro de si. É uma centelha, e você já emana essa energia! Precisa completar sua missão e descobrir seu nome cósmico
__Como assim, não entendo?
__Moça você está bem?
Olhou para o lado, um rapaz lhe tocava o braço, voltou sua atenção para Lucia, mais esta já não estava mais lá
__Você estava falando sozinha moça, tá tudo bem? Estava esperando a loja abrir?
Tereza acenou com a cabeça que sim, se levantou e ficou esperando o rapaz abrir a loja de artes