domingo, 12 de dezembro de 2021

O Décimo Sexto Encontro

Lá estava novamente Tereza enfrentando o mundo e todos

Era incrível como andar de condução por são Paulo era um turbilhão. E naquele dia ela praticamente iria atravessar a metade da cidade de São Paulo. Pegou o metrô na estação República, o povo já começava a se aglomerar pois eram 18 horas, o horário que muita gente saia do trabalho, e algumas outras se encaminhavam para as faculdades locais espalhadas pela imensa metrópole, com o quase fim da pandemia muitos iam voltando as suas atividades normais. Chegando a estação Sé a movimentação de ida e vinda eram constantes, Tereza teria que descer na estação do Brás, fazer uma breve caminhada até a plataforma de trens e pegar um que fosse até o bairro de São Miguel Paulista. Durante seu percurso até a plataforma foi meditando! Nem se deu conta, quando viu já estava no trem e este em movimento. Ela estava bem no meio entre as duas portas do vagão, quando subitamente ele parou na estação Tatuapé e uma avalanche veio em direção ao seu corpo jogando ela na porta do outro lado. Muita gritaria, muito riso (era uma sexta-feira). Um garoto ficou bem de frente a ela pressionando seu corpo. Ele lhe sorriu com os olhos (devia ter uns quinze anos) e falou com a voz abafada pela mascara

__Perdão moça, pelo mal jeito, mais é a Polaridade quem manda aqui (risos abafados)

Tereza não respondeu, mais seus olhos giraram para cima no maior tédio do mundo

__Esse negócio de Polaridade foi um lance que eu li num livro de alquimia, quando estava fazendo um trabalho de escola. Doiderá né esse lance de alquimia. Mais tem muita gente que não acredita. A senhora acredita nisso??? Eu acredito que...

Tereza arregalou os olhos imediatamente e interrompeu o garoto

__Esse lance de Polaridade é uma Lei Alquímica

__Aeeeee já vi que a senhora manja da coisa (risos)

__Primeiro pare de me chamar de senhora que tenho idade para ser sua irmã

__Tá bom mana, manda lá!!!

__Você é mesmo um garoto incorrigível, mais me fale sobre essa Lei da Polaridade

__Calma lá!!! E onde fica a regra básica da Alquimia???

__Qual regra

__Ai ai ai você quer ser uma grande alquimista e nem sabe a regra básica. Para se ter algo é necessário dar algo em troca, no mesmo valor e equivalência.

__Essa agora!!! E o que eu lhe posso dar em troca???

__ A Pedra Mãe...

__Pedra Mãe??? E onde lá eu tenho isso???

__Ah está aí no seu pescoço

__Uhum, mais essa foi minha mãe que me deu, por isso é Pedra Mãe?

O garoto se riu muito

__Não, não ela é a Pedra Mãe, porque foi gerada pela Mãe Terra, quando o grande Pai lhe abraçou e lhe fertilizou, então ela deu à luz a várias Pedras, que receberam o nome de Pedra Mãe. Entendeu???

__Entendi, mais para que serve uma Pedra Mãe???

__Não serve para nada, mais serve para tudo. Você só vai dar valor a sua Pedra Mãe quando perder ela. Eu por exemplo tinha a minha e não tive o devido cuidado com ela e perdi ela. Depois eu tive consciência da sua necessidade e passei a buscar ela por todo canto. Até que você me apareceu com ela novamente.

__Rapazinho você é muito engraçado, sabia? Pois bem, como eu não me apego a coisas materiais, vou lhe dar ela, mais cuide bem dela, talvez um dia eu venha buscar ela novamente com você

Tereza tirou o cordão com a pedra de seu pescoço e colocou no rapazinho

__Agora me conte sobre a Lei

__É assim, tudo que existe no mundo tem o seu oposto, o seu igual ou desigual, sendo na verdade a mesma coisa na natureza, mais em graus diferentes, pois são extremos de um mesmo tipo de escala. Por exemplo, o calor e o frio são uma mesma entidade, só que em posições opostos, imagine que se você for para um extremo vai ficar cada vez mais frio e se for por outro extremo vai ficar muito quente, assim também é o amor e o ódio, o bem e o mal. Sempre que você entende os polos pode manter seu equilíbrio, ficando no meio termo.

__Como assim???

__Se você não quer morrer congelada e nem torrada que fique no meio (risos). O mesmo vale para o amor e o ódio. Se você amar tanto, tanto, tanto, corre o risco de isso virar um ódio incontrolável, até mesmo uma obsessão. Da forma de que, muitas vezes quem odeia é porque ama, nem sempre um amor de homem ou mulher, mais um de incômodo, tipo você de certa forma amaria ser determinada pessoa, e como não consegue acaba por alimentar um ódio irracional sobre aquela mesma pessoa.

Tereza estava impressionada com aquele pequeno. De onde ele extraia tanta sabedoria? Seria um pequeno gênio, ou um notável leitor?

__Parabéns! E você aprendeu isso tudo na biblioteca?

__Sim, pois as coisas todas estão meio que ocultas nos livros (ele deu uma piscadela). Nem tudo isso você vai achar na internet. Desde pequeno meu pai e minha mãe sempre me levaram a biblioteca, e me ensinaram tudo, desde fazer pesquisas e encontrar coisas ocultas na imensidão de livros. Eles são professores de universidade, na verdade são pesquisadores. Legal esse lance né? Esse povo todo aí que fica afundado no celular são zumbis.

Tereza deu uma ligeira olhada em volta e ficou horrorizada. Era verdade o que o garoto dizia, pois 95% dos passageiros estavam fazendo alguma atividade no celular, o restante, ou cochilava ou conversava com a pessoa ao lado.

__Zumbis... (ela repetiu enquanto balançava a cabeça)

__Pois é, eles estão todos dominados que nem conseguem mais se comunica entre si. Muitos não conseguem nem falar (risos). Eu já fui em um encontro de amigos em que não foi trocada conversa nenhuma produtiva. Pois você falava algo, a pessoa te dava uma resposta vazia e continuava afundada digitando. Me deu uma gastura tão grande que levantei e fui embora. Nem se deram conta disso. Mais paciência, pois cada um faz o seu mundo não é mana?

__Você tem razão

__Poxa nosso papo tá bom, mais vou ter que descer na próxima estação. Você poderia me dar algo?

__Mais e a Lei da Troca onde fica?

__É verdade mana (risos)

__Eu quero que você pesquise outra Lei para mim. Eu já tenho quatro: Mentalismo, Correspondência, Vibração e Polaridade.

__Fácil, deixa comigo

__Eu o que você quer?

O Menino corou todinho parecia uma pimenta, baixou a cabeça e começou a coça-la

__Eu quero seu WhatsApp

Tereza não se conteve e riu muito, e alto, de forma que todos olharam para sua direção

__Me de seu celular

O menino lhe entregou e ela digitou seu contato devolvendo-lhe o aparelho em seguida. Ela deu um beijo afetivo em sua face

__Até mais mano, conto com você

__Você se chama Tereza!!! Meu nome Pablo...

Por um breve instante o menino removeu a máscara e lhe deu um largo sorriso. Ela retribuiu da mesma forma. O garoto deu um giro sobre os pés, se misturou na multidão que descia. Tereza iria descer na próxima estação