sexta-feira, 21 de agosto de 2020

O Oitavo Encontro

Tereza acabava de entrar em casa com suas compras quando seu celular tocou diversas vezes.

Era sua irmã Paola...

Sentiu de imediato um frio que lhe transpassou o corpo, da cabeça aos pés

Já fazia anos que não se falavam (brigas familiares)

A notícia, seu sobrinho Pedro havia falecido...

Foi tomada por uma profunda tristeza, chorou copiosamente, por horas

Sua irmã tinha se mudado há uns cinco anos para cidade do Rio de Janeiro, mais velha de todos, decidiu tomar o rumo em sua vida, pegou o filho único pela mão e sem dar satisfações a resto da família simplesmente partiu em uma manhã fria de julho

Tereza se pôs a fazer as malas pois cabia ali um último adeus, se bem que não era muito de ir a enterros, mais precisava de fato pôr um fim a mais um capítulo de sua existência. Fazer as pazes com a irmã e ver uma última vez o sobrinho amado.

Na fila do chek in parecia um zumbi, não tinha a percepção das pessoas a sua volta, estava totalmente interiorizada, a mente estava pesada, prestes a explodir. Tomou seu acento no avião... a mente vagou

Revia a briga horrível que teve com sua irmã (a última delas). Por conta do pai do sobrinho. Uma amiga de sua irmã tinha plantado uma semente amarga sobre uma possível relação entre ela e o cunhado. Foi tudo em uma tarde de novembro, Tereza está no shopping fazendo as compras de natal, lembra-se que comprar um DVD de games para o sobrinho. Estava muito feliz, foi tomar um café na praça de alimentação quando encontrou Pedro, que por sinal estava muito contente também, primeiro dia de férias. Ele a convidou para o acento na mesma mesa. Foi algo normal e inocente, lancharam, conversaram quando um improvável celular fez uma foto e uma postagem indiscreta...

Quando chegou em casa a briga foi horrível, sua irmã já a horas já atormentava sua mãe falando do encontro dos dois e o quanto eram safados, o pequeno Pedro chorava aos berros, pois amava a todos intensamente. Paola então começou a xinga-la de todos os nomes baixos possíveis e imagináveis, chegou a avançar sobre sua face fazendo um arranhão horrível que lhe deixou uma bela cicatriz por dentro e por fora. No outro dia quando acordaram deram pela sua falta, mais o menino. Novo choro da mãe que culpou Tereza até o fim de sua vida, expulsando a mesma de casa.

Chegando agora ao velório de Pedro, sua irmã foi a seu encontro banhada em lágrimas. A abraçou fortemente, milhares de pedidos de perdão, Tereza nada falou...

Foi ao caixão do sobrinho, estava lindo, 19 anos, um rapaz, ao lado uma foto sua ainda criança, da idade a qual o tinha visto pela última vez

Um filme passou em sua cabeça, de quanto aquela criança sofrera, ela nunca fora amada o suficiente. Um nascimento não programado, Paola via-o como um empecilho em sua relação com o Pai. Pois assim que a criança nascera acabaram se os teatros noturnos, a vida boemia de que tanto gostava, tinha aversão a trocar fraudas (repulsa), o pai é quem fazia tudo isso com um grande desgosto pela forma de como ela agia. Era realmente uma mãe atípica. O pai via as famílias no bairro, encontros de famílias, almoços, festas, mais Paola era mesmo da badalação. Tomou então o hábito de ter más amizades e trazia sempre para casa pessoas estranhas que ficavam bebendo até tarde, tinha até desconfiança que usavam drogas. Suas redes sócias eram repletas de fotos com o copo na mão, roupas sexys e amigas extravagantes.

Como os pais trabalhavam passava boa parte do dia dom a avó e os tios, mais era com Tereza que ele mais se abria, desde de a tenra idade. Praticamente via na avó e na tia a mãe que sempre quis ter, eram tarde memoráveis, de brincadeira, lanches, filmes e passeios.

Foi então que Paola foi demitida e as coisa se complicaram, com a grana pouca não tinha mais como sustentar sua vida e vícios. Passou a culpar o marido por ser um fracassado na vida profissional e ganhar tão pouco, e o filho de que não passava de um fardo o qual tinha que carregar

Proibiu então o pequeno Pedro de ficar na casa da avó, culpou-a de mimar muito a criança, dizendo que ela precisava ser doutrinada. Logo em seguida veio o episódio da briga das irmãs

Paola tinha uma amiga que estava de retorno para o Rio, com promessa de emprego com ganhos altos, não pensou duas vezes. Nunca ninguém soube que empego era esse, no entanto lhe deu uma vida confortável, no qual podia pagar um apartamento em Leblon e ter a vida que tanto gostava (fútil).

Tereza se sentou em silencio ao lado de Paola, que narrou os últimos acontecimentos:

Pedro se envolveu com uns garotos maus da alta sociedade, e começou a beber e usar drogas precocemente, nada disso sua mãe percebia (apesar dos alertas da vizinhança), só estava tranquila por saber que ele tinha amigos e estava sempre sorrido. Suas idas até a faculdade estavam ficando muito raras, mais Paola nem se apercebeu disso, pois não tinha tempo, ficavam quase sempre sabendo por ligações de professores e amigos, o pai de Pedro havia refeito a vida casado novamente e tido uma filha, chegou mesmo a fazer vários convites para o filho ir morar com ele, todos em vão. Até que o fatídico dia chegou, Paola foi acordada por barulhos de sirenes, era a Polícia, seu filho tinha se envolvido em um acidente de carro e a morte foi fatal.

Paola pedia perdão convulsivamente e gritava alto: o que vou fazer agora da minha vida, não tenho ninguém?

__ E seus amigos Paola, onde estão

__ Não vieram, nenhum deles! Acho que estou acordando agora de um sono profundo

__ E Pedro não veio ao velório do filho porquê?

__ Foi promovido, está nos Estados Unidos

__ Entendo...

__ Você tem dinheiro para ir tocando adiante?

__ Sim, sim tenho, consegui um bom emprego quando vi para cá. Mas vejo que isso de nada valeu. Acho que preferia estar com minha vidinha simples e feliz que tinha anteriormente sabe! Uma família

Colocou as mãos no rosto e voltou a chorar muito

Tereza pensou, pensou muito

__ Veja Paolo, eu ti perdoo, porque todos merecem o perdão. Minha casa está com as portas abertas para você. Parece-me que você ainda tem laços por aqui. Mais se um dia esses laços se romperem, pode retornar. Tente apenas se reconstruir, mais de um modo diferente. Até a data de hoje você viveu apenas para você mesma. Mas veja, a vida é uma comunhão onde todos estamos conectados, onde uns precisam dos outros. Com exceção de alguns mestres que conseguem seguir por si mesmos. Você simplesmente via seu lado, não procurou saber de Pedro, de Pedrinho, da mãe, de mim e dos outros irmãos, atropelou a todos com sua arrogância e pretensão. Mais enfim nada do que se passou tem um concerto ou retorno, deves plantar sementes novas, novos frutos. Eu parto de volta hoje é tão eternomesmo, mais fica aqui o meu número e sempre que precisares é só entrar em contato

__ Tereza você está tão diferente, parece tão mais segura, que parece que você é a irmã mais velha! Sim vou seguir seus conselhos e tentar seguir adiante

Chegado o momento o caixão foi transportado a seu destino final. Tereza teve que improvisar uns dois funcionários da funerária para ajudar a carregar a urna, dois amigos da faculdade de Pedro compareceram. O enterro foi triste e frio, Paola caiu de joelhos e terra e as lagrimas inundaram a terra ressequida. Tereza ponderava sobre que uma pessoa podia fazer consigo mesma e ainda atingir inocentes. Quantas e quantas Paolas não estão por ai no mundo fazendo sofrer pequenos e grandes Pedros.

Na porta do cemitério uma última despedida, um abraço silencioso, Tereza sinalizou para um taxi e partiu, essa seria a derradeira vez que veria sua irmã mais velha...