sexta-feira, 16 de outubro de 2020

O Décimo Encontro

Tereza tinha ido à uma velha construção abandonada que existia em sua rua para encontrar uma pessoa desconhecida que havia lhe enviado uma carta anônima que fora colocada por baixo da porta de sua casa. O texto era simples, dizia apenas, vá a este endereço pois tenho uma revelação a lhe fazer, assinado: alguém que lhe quer bem.

A casa era sinistra desde a fachada. O portão velho e todo enferrujado fez um estrondoso ruído assim que ela forçou ele para abri. Era um sobrado antigo da década de cinquenta. Existia uma história sinistra que contava que ali houveram vários assassinatos em série e por este motivo a casa não foi passada para frente, além de estar envolvida em vários processos entre herdeiros. 

Tereza adentrou o que antes era um lindo jardim, mais agora imperavam folhas secas, teias de aranha, árvores enormes, bizarras e ressequidas pelo tempo que impedia a luz do sol de adentrar naquele ambiente

Tereza desde de sua metamorfose não tinha mais sentido medo de nada nesta vida. No entanto aquele local lhe causa um sentimento negativo, tristeza, asco. Uma vontade imensa lhe invadiu de estar bem longe dali, no entanto sua curiosidade era maior. Olhou no entorno para ver se via alguém

Foi contornando a casa, até dar nos fundos e chegou até a antiga piscina, ouviu um choro de criança que vinha lá de dentro. Chegou na borda para dar uma olhada, mais nada viu, além de folhas secas e vários insetos. Dizia a lenda que o filho do último casal morador na casa tinha se afogado ali, era uma criança de apenas oito anos. Por um instante Tereza imagino a agonia da criança tentando sobreviver sobre o turbilhão de águas que lhe invadiam as entranhas junto com uma vontade enorme de poder gritar para que alguém viesse lhe salvar, no entanto, os pais estavam muito preocupados em saber qual investimento fariam para aumentarem seus ganhos na bolsa de valores...

Ali também existia uma churrasqueira de alvenaria, Tereza viu muita gente rindo alto, comendo e bebendo, homens e mulheres de roupa de banho...

Continuou contornando a casa pelo outro lado onde existia um corredor enorme ao que dava entender que ali era a entrada de carros da casa, pois no fundo, paralelo a piscina havia um amplo espaço do que antes era uma cobertura para carros, ainda estava ali um deles totalmente corroído pelo tempo, assim como seu último morado, que após o suicídio de sua esposa (pois não suportou a morte da criança) enlouqueceu e foi internado em um manicômio. Tereza pensou nesse momento em como a vida era frágil e as vezes dramática, pois apesar de toda aquela riqueza, aqueles que nessa imensa casa moraram não conseguiram ser felizes e usufruir de tudo aquilo que possuíam. Como pode isso, as vezes quem pouco tem, é tão feliz e vive-se uma vida tão plena!!!

Tereza acabou saindo novamente na frente da casa, e nada de encontrar viva alma, deveria entrar???

Fico ali parada olhando para o alto, aquela imensidão de casa. Lembrou também de filmes e séries de suspense que coisas desse tipo nunca acabavam bem. Afinal ela nem sabia que a havia arrastado aquele lugar. Tomou se de coragem e pressionou a porta de entrada, que rangeu como um gemido, seus pelos se irisaram e um arrepio tomou todo seu corpo

Deu de cara com a sala, era gigantesca e cheia de móveis comidas pelos cupins, de frente havia uma escada que estava deteriorada, o chão era de madeira e conforme ela pisava sobre ele, o mesmo ia fazendo estalos horríveis. Chegou a cozinha, alia uma grande pia e uma torneira que gotejava água, na parede um armário ainda guardava louças de porcelana no estilo Francês. No canto havia uma porta com um pequeno corredor, que ia dar no quarto da empregada (a mesma que encontrará o menino morto na piscina)

Tereza voltou a sala e ponderou se deveria subir as escadas. A casa era uma escuridão total, olhou no celular já eram quase seis horas, não seria uma boa ideia estar ali quando o breu da noite tomasse conta de tudo. Deu passos rápido e subiu a escada, tomou o rumo a direita, no fundo estava o quarto do casal, cortinas corroídas por traças, a cama tinha cedido uma perna estava torta, o guarda-roupas era embutido na parede com lindos detalhes de entalhes, no chão ainda estava lá um lindo tapete persa resistindo a tudo isso, quase impossível. Ela voltou do lado um quarto de hospedes com uma cama de solteiro e outra de casal, mais a frente perto da escada mais um quarto, também todo mobiliado, no entanto tinham tons femininos. Tereza avançou até o último quarto na direção oposta, estranhamente era o único que estava com a porta trancada, tentou forçar para ver se abria, quando nesse instante ouviu bater da sala. Seu coração saltou e acelerou abruptamente.

Voltou vagarosamente e olhou para baixo, conseguiu ver um homem enorme que estava com um casaco e um capuz sobre a cabeça (estranho pois era uma tarde muito quente). O homem colocou a mão na parte de trás da cintura e sacou uma arma

Tereza teve muito medo nessa hora, se arrependendo imensamente de estar ali naquele lugar, pegou o celular para pedir ajuda e viu que a carga da bateria estava por um fio e piscando, ou seja, tinha segundos para ligar para alguém. Mais seu pavor maior, for perceber que estava sem sinal nenhum

Começou a ouvir o som da pessoa subindo as escadas, então ela se arrastou para o outro lado, tentando não ser detectada e foi até o quarto do casal, abriu as janelas e botou o celular para fora. Enfim, deu sinal!!! Fez a ligação para um nove zero, a bateria acabando... e som dos toques da chamada lhe batendo ao ouvindo, tum, tum, tum

Tereza começou a chorar copiosamente, tum, tum, tum...

Olhou para o lado repentinamente...

Estava na sua cama...

Seu celular tocava, tum, tum, tum...