terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O Décimo Segundo Encontro

A vida de Tereza seguia uma normalidade e fluidez incríveis, seu novo atelier montado no cômodo contíguo estava a pleno vapor, uma vez por semana fazia um pequeno quadro, coisas simples para apurar suas técnicas e treinar as aulas online, na qual havia se inscrito.

Lá fora o mundo andava meio louco com o surto de um vírus letal, pessoas morrendo, sobreviventes abalados usando máscaras para se protegerem, uma imensa desordem física e estrutural, no qual Tereza procurava manter sua normalidade, fazendo as coisas que mais gostava e economizando horrores para que o dinheiro que receberá do antigo emprego, mais economias que fizera durante os anos rende-se mais. Enfim, vivia seu novo sonho. E por falar em sonhos, como será que andava Jesus em meio àquela loucura toda?

Tereza se alto congelou e sua mente flui por vários pensamentos, pensou na possibilidade de ajudar Jesus e aproveitar todo o seu talento. Mais como? Pensou... pensou... Talvez alguém de fora. Talvez Dr. Alberto, quem sabe

Quando deu por si, estava com o telefone na mão, marcando uma nova consulta. No outro dia pela tarde (queria ser a última consulta do dia, para ter mais tempo com o Dr.) já estava na recepção do prédio. A recepcionista olhou fixamente para ela e deu um sorriso.

__Ah!!! Você voltou. Quase todas voltam. Porém você está bem diferente heim. Cá entre nós, eu também marquei uma consultinha lá com o Sr, Alberto. E adorei!!!

Novo sorriso da atendente, ela colocou o dedo indicador sobre os lábios, em sinal de silêncio. Seria o pequeno segredinho entre ela e a recepcionista. Ela lhe sorriu de volta retribuindo o mesmo sinal.

Ao chegar no consulto aguardou na sala de espera, em minutos o Dr. apareceu na porta do consultório e a fitou longamente.

__Tereza?

__Sim essa sou eu (risos)

__Pode entrar

Tereza se sentou na confortável cadeira de paciente, Alberto sentou-se na cadeira logo a frente, ainda a fitava.

__Curioso!!!

__Quem??? Eu???

__Sim, sim você teve uma bela transformação. Deve ter seguido minha receita (risos)

__Ao pé da letra (mais risos)

__Bom, então vamos lá. Me conte como tem encarado seus fantasmas, ainda mais em um momento destes que estamos vivendo?

__Na verdadeeeee...

__Sim?

Tereza piscou um olho

__Minha vinda aqui não é na verdade uma consulta

__Ahhhh, então de que se trata?

__Bom vamos ao começo! Eu não conheço muitas pessoas, sai do antigo emprego, estou tentando algo novo, pintura

__Olha, isso é uma coisa excelente!

__E me lembrei do Dr.

__Olha pode me chamar de Alberto

__Ah sim! Então pensei...

__Sim?

__Que o senhor deve conhecer um bocado de gente?

__Ah! Claro. E você gostaria que indicasse alguns, para você vender quadros. Acertei?

Tereza arregalou os olhos

__Não, não é nada disso (risos)

__Puxa errei feio então

__Não chegou nem perto

__Então vou encerrar minha carreira de adivinho e deixar você terminar

__Veja bem, você pode até achar estranho... Já faz um tempo, em nossa última consulta, quando sai daqui eu conheci um rapaz. Um morador de rua. Conversamos um pouco, levei ele para comer algo

__Que linda atitude!

__Ah sim, obrigada. Então este rapaz me mostrou uns textos e vi que ele tem um talento enorme para escrita, decidi ajuda-lo. Mais não sei por onde, não conheço ninguém deste círculo intelectual. Ai pensei... Sei lá... De repente o Dr... Quero dizer, você. Conheça alguém que possa fazer este encaminhamento e ajudar este rapaz?

__Puxa que incrível. Eu conheço sim, pelo menos duas pessoas

__Veja eu trouxe um texto dele que ficou comigo

Alberto pegou a folha da mão de Tereza e leu umas três vezes

__Realmente muito bom! Teria mais?

__Na verdade não

__Uma pena. E onde achamos este rapaz?

Tereza arregalou os olhos novamente!

__Nossa eu sou uma tola né? Vim aqui te incomodar em seu serviço, e nem sei onde localizar esta pessoa. Na última vez eu encontrei ele aqui na praça em frente ao prédio

__Perfeito, então vamos lá. Se for este o destino, o rapaz nos aguarda. E urge encontra-lo de imediato

Alberto arrumou o consultório, trancou a porta e desceram pelo elevador. Ao descerem no térreo Tereza enroscou seu braço no de Alberto, este lhe sorriu. Ao passarem pela recepção Tereza deu uma leve piscadela para a recepcionista, que lhe olhou atônita, mais logo lhe sorriu largamente.

Quando chegaram a praça Tereza foi direto ao banco onde havia encontrado ele pela primeira vez, mais sem sucesso, então resolveram fazer um pequeno passeio de reconhecimento e busca, mais depois de uma hora e meia não obtiveram sucesso algum. Alberto teve a ideia de se separarem eu perguntarem aos mendigos locais, Tereza atendeu prontamente a ideia dirigindo se para o lado direito enquanto Alberto seguiu para esquerda. Depois de mais de duas horas já haviam se encontrado novamente no ponto inicial se que nenhum dos dois tivesse obtido a mínima informação. Tereza se lamentou por ter esperado tanto tempo então sentaram se no banco, foi então que a barriga de Tereza roncou em alto som, ela corou

__Ok moçinha, já estamos andando a um bom tempo, então chegou a hora de abastecer

__Excelente ideia!

__Vamos comer no lugar mais chique desta praça. Eu te prometo

Aberto levantou-se tomou a mão de Tereza e deram três passos

__Pronto chegamos!

Tereza deu uma sonora gargalhada, estavam de frente a uma dessas dezenas de carrinhos de cachorro quente que ficavam espalhadas pela praça

__Ah!!! Isso sim é muitooooooooooo chique!!! Por favor quero um cachorro quente duplo e mais um refrigerante, por favor.

__Pois não mocinha, fique à vontade e sentem-se por favor enquanto vou preparando

O senhor do carrinho de lanches parecia um velhinho bem simpático, enquanto preparava os lanches cantarolava uma cantiga. Tereza teve um clique nesse momento

__Espere, espere. Senhor onde aprendeu essa música? Ela não é assim muito comum

__Verdade, você tem razão no que diz. Mais de tanto ouvir um mendigo cantarolando ela eu meio que peguei de cabeça. E não é que é uma bela melodia (um sorriso)

__E como se chama esse mendigo?

__É o Jesus. Ele é o mais pacato e calmo mendigo desta praça

Tereza não podia se conter em sua felicidade

__Olha estamos procurando ele a horas. Mais pelo que vi pouco o conhecem, e os que o conhecem não tem notícia alguma

__Sim é verdade praticamente ninguém sabe o que aconteceu com Jesus. A não ser uma pessoa

__E quem seria essa pessoa? (perguntou Alberto)

__Eu!

Tereza aflita disparou em seguida

__E onde ele está?

__Infelizmente, internado em hospital. Certa manhã quando cheguei para trabalhar notei que Jesus respirava com dificuldades, até pensei que tinha contraído esse vírus que se espalhou por todo canto. Mais ao leva-lo ao hospital, constataram que o pobre estava com começo de pneumonia, no entanto, nem se assustaram, por ser uma doença muito frequente nos moradores de rua. Noites e mais noites ao relento, períodos de inverno, mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer. E vou fazer visita para ele a cada dois dias, se quiserem eu dou o endereço do Hospital e vocês podem ir lá diretamente ver como ele está.

O Senhor anotou o endereço e nome do Hospital em um guardanapo. Alberto pagou os lanches. Depois Tereza e seu amigo se dirigiram ao Hospital local