sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O Décimo Quinto Encontro

Tereza estava atônita, parecia que seu cérebro estava em bloqueio. Não conseguia fazer mais nada, nem pintar seus quadros. Estava obcecada em busca das outas Leis, deitada na cama com umas três cobertas, seus olhos miravam o teto branco do quarto, era uma sexta feira fria de agosto, e o desgosto estava em seu semblante, quando de repente o sino da igreja local vibrou, e com ele todo seu corpo, podia-se dizer que até sua alma, foi realmente uma sensação estranha. Levantou-se repentinamente e correu ao banheiro, ligou o chuveiro no mínimo e esperou o ambiente se encher de vapor, tomou um banho lento e reflexivo. Desde que sua mãe se fora, nunca mais havia pisado em uma igreja, não fazia mais sentido para ela, mais porque naquele momento, após ouvir o sino algo moveu-se dentro de si, uma energia, um chamado.

Voltou ao quarto e arrumou-se, montou-se como quem ia determinada a alguma luta, sua roupa preta era tal como uma armadura medieval. Sentia-se como Joana horas antes da batalha. De uns tempo para cá havia pensado muito em Joana e pesquisado sua vida, o quanto ela foi heroica, e o quanto ela fora usada pelo Estado e o Clero, e quanta Joanas não existiam pelo mundo a foram sofrendo inocentemente!!!

Ao colocar os pés na rua sentiu o vento gélido, no entanto seu espirito quente o repeliu de imediato, seguiu decidida pela rua em direção a igreja, ela era antiga ainda nos moldes do império. De baixo fitou a escadaria e sua construção no cimo, era realmente uma visão sugestiva, pois a ponta da igreja tocava as nuvens no céu, e apesar de ser um dia claro de inverno, apenas no topo do santuário existia uma grossa e densa nuvem. Subiu as escadas reflexiva. O que estava fazendo ali??? Era correto aquilo??? Certamente seria expulsa como se fosse uma bruxa medieval!!! Ou o padre riria de sua insanidade e a mandaria embora para casa...

Adentrou ao recinto e admirou as obras de arte, não se podia negar que os santos e imagens eram de muito bom gosto. Para uns trazia paz e alivio, já para outros pânico e tormenta, dependendo de seu estado emotivo, mais para ela o motivo ali era outro, então o ambiente lhe era indiferente. Caminhou lentamente, o silêncio do local era quebrado pelos seus passos, dirigiu-se ao confessionário, era a primeira vez que fazia isso, aquela força interior a movia.

__Padre, me perdoe por tomar o seu tempo!!!

__Não há o porque pedir perdão quanto a isso, pois o tempo é do Pai, ele o preside com sabedoria, quem sou eu para questionar isso

Tereza vislumbrou mentalmente um sorriso do outro lado, sentiu-se bem acolhida...

__É que não estou aqui para confessar meus pecados. Vim em busca de conhecimento!!!

__Enfim uma alma que não está atormentada!!! O que buscas???

__Estou em busca das Leis que regem esse Universo, e ao ouvir o vibrar do sino algo me despertou!!!

__Deus Santo!!! A Lei da Vibração...

Os olhos de Tereza se dilataram instantaneamente e se encheram de lágrimas, estava no caminho certo.

__Venha cá minha filha, seu lugar não é no confessionário

Ambos saíram de seus respectivos lugares e se encontraram frente à frente, O Padre com um imenso sorriso, pegou em suas mãos.

__Eu me lembro de você ainda pequena, Tereza. Sua mãe costumava trazer você nas missas de domingo depois de um tempo sumiu e nunca mais apareceu...

Tereza lhe devolveu o sorriso e apertou forte a mão que lhe segurava

__Me lembro vagamente...

O padre com um aceno de cabeça, convido a lhe seguir, Passaram um extenso corredor, entraram em uma saleta, no canto havia uma porta e logo em seguida uma escada que descia dando acesso ao subterrâneo da igreja.

__Meu nome é Padre Bento, estou nessa igreja logo logo irá fazer uns cem anos (riu alto e o som ecoou por todo o espaço). Quando era ainda moço, gostava de revirar as coisas. E foi assim revirando móveis que encontrei esta porta atrás de um imenso armário, parece até coisa de livros não??? (mais risos).

Ao final da escada o padre acendeu as luzes e uma imensa biblioteca se desvelou, os olhos de Tereza brilharam de alegria e contentamento

__Nem todo padre vive apenas do conhecimento de Roma, muitos são letrados, pesquisadores, e não se contentam e ler apenas alguns livros, se existem milhares por ai. E foi aqui neste mesmo local que descobri uma sabedoria infinita e no meio destes livros que encontrei um que transcrevia as Leis, as quais você procura, no entanto deves guardar segredo sobre este local, pois tenho medo que confisquem estes livros de minha posse, privando-me assim de sua leitura. Depois que eu partir para a grande viagem deixo a revelação para os que vierem e que façam um bom proveito, se assim conseguirem (baixou a cabeça e seu semblante ficou triste)

__Não se entristeça bom padre, pois sei bem como é o ser humano, e comigo seu segredo está bem guardado.

O padre voltou a sorrir, puxou uma cadeira para que ela se sentasse, existia ali uma mesa enorme e bem conservada, de madeira de lei, o padre se afastou um pouco e ficou mirando as imensas estantes. Pegou uma escada e subiu, examinou alguns livros, depois mudou a escada novamente de lugar, fez o mesmo processo por diversas vezes no período de meia hora. Retornou abatido, como um soldado que retorna de uma má campanha.

__Sinto muito Tereza, já fazem anos que me deparei com este livro, e a memória fraca não me permite lembrar onde coloquei ele nessa multidão. Mais se lhe serve de consolo esta Lei da Vibração me veio forte à mente, reza assim: “Nada está parado, tudo se movimenta, tudo vibra. A diferença entre as várias manifestações de matéria, energia, mente e espírito resulta principalmente de taxas variáveis de vibração. Quanto maior a vibração, mais elevada a posição na escala. Tudo, desde o átomo e a molécula até mundos e universos, está em movimento vibratório.” E muitas coisas nos fogem a ótica e nossa limitação. As vezes uma coisa gira tão rapidamente, que a nosso olho pode parecer que está parado, ou mesmo uma coisa que se move tão vagarosamente que na nossa percepção pode ter o mesmo resultado, mais não se engane, nada fica parado. Até nós mesmos quando dormimos, todo o sistema esta em movimento circulando e acredite, até um morto, seu interior esta se movimentando em decomposição para se tornar outra coisa, Terra!!!

Tereza ficou fortemente emocionada, se levantou e começou a aplaudir o Padre, que também se levantou e lhe fez uma reverencia. Ambos se abraçaram, apesar da pandemia que seguia lá fora. Em retribuição Tereza lhe falara sobre os outras Leis que aprendera, e a forma como chegaram até ela. Os dois ficaram por um bom tempo ali naquele local isolado do mundo conversando acerca de diversos assuntos e temas, quando foram despertados pela vibração do sino.

__Já é hora de nos movermos, não podemos ficar parados aqui o dia inteiro não é???

Tereza lhe sorriu e balançou a cabeça afirmativamente. Aquele local era realmente um sonho. Se pudesse retornar ali e ler um por cento de seu conteúdo, seria uma pessoa realizada. Retornaram pelo mesmo caminho que vieram, o padre lhe acompanhou até a porta da igreja.

__Antes que você parta vou lhe fazer um pedido e lhe dar um presente. O pedido é que venha sempre que puder me visitar, o padre muitas vezes é uma pessoa muito solitária, mesmo muitas pessoas frequentando a igreja. O presente é esta chave, venha sempre que quiser pesquisar os livros. A casa de Deus esta sempre aberta para todos, mesmo que poucos a procurem, assim como uma biblioteca. Você será a guardiã deste saber, e quando eu partir, já sabe o que fazer com os livros.

Teresa tomou as chaves em suas mãos, beijou com ternura a mão do padre e lhe deu mais um forte abraço. Em seu ouvido lhe sussurrou um obrigado. E mais uma vez se fez a vibração...