A vida de Tereza seguia uma normalidade e fluidez incríveis, seu novo atelier montado no cômodo contíguo estava a pleno vapor, uma vez por semana fazia um pequeno quadro, coisas simples para apurar suas técnicas e treinar as aulas online, na qual havia se inscrito.
Lá fora o mundo andava meio louco com o
surto de um vírus letal, pessoas morrendo, sobreviventes abalados usando
máscaras para se protegerem, uma imensa desordem física e estrutural, no qual
Tereza procurava manter sua normalidade, fazendo as coisas que mais gostava e
economizando horrores para que o dinheiro que receberá do antigo emprego, mais
economias que fizera durante os anos rende-se mais. Enfim, vivia seu novo
sonho. E por falar em sonhos, como será que andava Jesus em meio àquela loucura
toda?
Tereza se alto congelou e sua mente flui
por vários pensamentos, pensou na possibilidade de ajudar Jesus e aproveitar
todo o seu talento. Mais como? Pensou... pensou... Talvez alguém de fora.
Talvez Dr. Alberto, quem sabe
Quando deu por si, estava com o telefone
na mão, marcando uma nova consulta. No outro dia pela tarde (queria ser a última
consulta do dia, para ter mais tempo com o Dr.) já estava na recepção do
prédio. A recepcionista olhou fixamente para ela e deu um sorriso.
__Ah!!! Você voltou. Quase todas voltam.
Porém você está bem diferente heim. Cá entre nós, eu também marquei uma
consultinha lá com o Sr, Alberto. E adorei!!!
Novo sorriso da atendente, ela colocou o
dedo indicador sobre os lábios, em sinal de silêncio. Seria o pequeno
segredinho entre ela e a recepcionista. Ela lhe sorriu de volta retribuindo o
mesmo sinal.
Ao chegar no consulto aguardou na sala de
espera, em minutos o Dr. apareceu na porta do consultório e a fitou longamente.
__Tereza?
__Sim essa sou eu (risos)
__Pode entrar
Tereza se sentou na confortável cadeira de
paciente, Alberto sentou-se na cadeira logo a frente, ainda a fitava.
__Curioso!!!
__Quem??? Eu???
__Sim, sim você teve uma bela
transformação. Deve ter seguido minha receita (risos)
__Ao pé da letra (mais risos)
__Bom, então vamos lá. Me conte como tem
encarado seus fantasmas, ainda mais em um momento destes que estamos vivendo?
__Na verdadeeeee...
__Sim?
Tereza piscou um olho
__Minha vinda aqui não é na verdade uma
consulta
__Ahhhh, então de que se trata?
__Bom vamos ao começo! Eu não conheço
muitas pessoas, sai do antigo emprego, estou tentando algo novo, pintura
__Olha, isso é uma coisa excelente!
__E me lembrei do Dr.
__Olha pode me chamar de Alberto
__Ah sim! Então pensei...
__Sim?
__Que o senhor deve conhecer um bocado de
gente?
__Ah! Claro. E você gostaria que indicasse
alguns, para você vender quadros. Acertei?
Tereza arregalou os olhos
__Não, não é nada disso (risos)
__Puxa errei feio então
__Não chegou nem perto
__Então vou encerrar minha carreira de
adivinho e deixar você terminar
__Veja bem, você pode até achar
estranho... Já faz um tempo, em nossa última consulta, quando sai daqui eu
conheci um rapaz. Um morador de rua. Conversamos um pouco, levei ele para comer
algo
__Que linda atitude!
__Ah sim, obrigada. Então este rapaz me
mostrou uns textos e vi que ele tem um talento enorme para escrita, decidi
ajuda-lo. Mais não sei por onde, não conheço ninguém deste círculo intelectual.
Ai pensei... Sei lá... De repente o Dr... Quero dizer, você. Conheça alguém que
possa fazer este encaminhamento e ajudar este rapaz?
__Puxa que incrível. Eu conheço sim, pelo
menos duas pessoas
__Veja eu trouxe um texto dele que ficou
comigo
Alberto pegou a folha da mão de Tereza e
leu umas três vezes
__Realmente muito bom! Teria mais?
__Na verdade não
__Uma pena. E onde achamos este rapaz?
Tereza arregalou os olhos novamente!
__Nossa eu sou uma tola né? Vim aqui te
incomodar em seu serviço, e nem sei onde localizar esta pessoa. Na última vez
eu encontrei ele aqui na praça em frente ao prédio
__Perfeito, então vamos lá. Se for este o
destino, o rapaz nos aguarda. E urge encontra-lo de imediato
Alberto arrumou o consultório, trancou a
porta e desceram pelo elevador. Ao descerem no térreo Tereza enroscou seu braço
no de Alberto, este lhe sorriu. Ao passarem pela recepção Tereza deu uma leve
piscadela para a recepcionista, que lhe olhou atônita, mais logo lhe sorriu
largamente.
Quando chegaram a praça Tereza foi direto
ao banco onde havia encontrado ele pela primeira vez, mais sem sucesso, então
resolveram fazer um pequeno passeio de reconhecimento e busca, mais depois de
uma hora e meia não obtiveram sucesso algum. Alberto teve a ideia de se
separarem eu perguntarem aos mendigos locais, Tereza atendeu prontamente a
ideia dirigindo se para o lado direito enquanto Alberto seguiu para esquerda.
Depois de mais de duas horas já haviam se encontrado novamente no ponto inicial
se que nenhum dos dois tivesse obtido a mínima informação. Tereza se lamentou
por ter esperado tanto tempo então sentaram se no banco, foi então que a
barriga de Tereza roncou em alto som, ela corou
__Ok moçinha, já estamos andando a um bom
tempo, então chegou a hora de abastecer
__Excelente ideia!
__Vamos comer no lugar mais chique desta
praça. Eu te prometo
Aberto levantou-se tomou a mão de Tereza e
deram três passos
__Pronto chegamos!
Tereza deu uma sonora gargalhada, estavam
de frente a uma dessas dezenas de carrinhos de cachorro quente que ficavam
espalhadas pela praça
__Ah!!! Isso sim é muitooooooooooo chique!!!
Por favor quero um cachorro quente duplo e mais um refrigerante, por favor.
__Pois não mocinha, fique à vontade e
sentem-se por favor enquanto vou preparando
O senhor do carrinho de lanches parecia um
velhinho bem simpático, enquanto preparava os lanches cantarolava uma cantiga.
Tereza teve um clique nesse momento
__Espere, espere. Senhor onde aprendeu
essa música? Ela não é assim muito comum
__Verdade, você tem razão no que diz. Mais
de tanto ouvir um mendigo cantarolando ela eu meio que peguei de cabeça. E não
é que é uma bela melodia (um sorriso)
__E como se chama esse mendigo?
__É o Jesus. Ele é o mais pacato e calmo
mendigo desta praça
Tereza não podia se conter em sua
felicidade
__Olha estamos procurando ele a horas.
Mais pelo que vi pouco o conhecem, e os que o conhecem não tem notícia alguma
__Sim é verdade praticamente ninguém sabe
o que aconteceu com Jesus. A não ser uma pessoa
__E quem seria essa pessoa? (perguntou
Alberto)
__Eu!
Tereza aflita disparou em seguida
__E onde ele está?
__Infelizmente, internado em hospital.
Certa manhã quando cheguei para trabalhar notei que Jesus respirava com
dificuldades, até pensei que tinha contraído esse vírus que se espalhou por todo
canto. Mais ao leva-lo ao hospital, constataram que o pobre estava com começo
de pneumonia, no entanto, nem se assustaram, por ser uma doença muito frequente
nos moradores de rua. Noites e mais noites ao relento, períodos de inverno,
mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer. E vou fazer visita para ele a cada
dois dias, se quiserem eu dou o endereço do Hospital e vocês podem ir lá
diretamente ver como ele está.
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